Imaginemos um projecto artístico que se propõe a reunir, no mesmo gesto, a criação fotográfica e a mediação em artes performativas. Não como instrumentos de documentação ou de divulgação, mas como práticas activas de escuta, invenção e tradução. Um projecto que parte de um conjunto de espectáculos - dança, teatro, performance - para, a partir deles, gerar imagens fotográficas construídas em colaboração com os espectadores, os intérpretes e os mediadores. Fotografias que não procuram fixar o momento performativo, mas antes reinscrevê-lo noutra linguagem sensível, e, com isso, reabrir a experiência ao tempo comum.

Neste cruzamento entre fotografia e mediação, a imagem deixa de ser apenas uma testemunha do que já aconteceu. Passa a ser lugar de interrogação, de reapropriação e de partilha. A mediação, por sua vez, deixa de operar apenas entre a obra e o público, e transforma-se num gesto de criação. Um grupo de espectadores pode ser convidado a responder a uma peça através de imagens criadas em conjunto com um fotógrafo - não imagens ilustrativas, mas visões próprias, fragmentos, sombras, deslocações. O resultado pode assumir a forma de um arquivo vivo, de uma instalação colectiva, de um livro de artista ou de uma exposição efémera no átrio do teatro. As possibilidades são inúmeras. 

Por um lado, este tipo de projecto desafia a hierarquia entre criadores e públicos, entre palco e plateia, entre o visível e o invisível. Por outro, revela o poder da imagem fotográfica como mediadora entre linguagens, como catalisadora de memória, como forma de reinscrição do corpo e do gesto no campo expandido da experiência artística. O espectador deixa de ser apenas aquele que olha, torna-se também aquele que escolhe, que recorta, que posiciona, que imagina. E, nesse processo, a fotografia aproxima-se da performance - não enquanto registo, mas enquanto gesto de presença e transformação.