A dimensão participativa deste projecto não é um adorno nem um apelo genérico à inclusão - é o seu motor. Ela funda-se na ideia de que a experiência estética se intensifica quando se multiplicam as vozes, quando se fragmenta em olhares parciais, quando se oferece à modelação comum. Participar, neste contexto, não significa apenas estar presente, mas agir sobre a obra, transformá-la, continuar o seu percurso noutro meio. Cada participante traz a sua bagagem sensível, a sua história, os seus códigos de leitura. Ao criar imagens em resposta a um espectáculo, ao construir narrativas visuais que nascem do corpo e da escuta, esse participante torna-se também autor, ou melhor, co-autor de um processo partilhado.

Trata-se, assim, de activar uma ecologia de relações em que o gesto artístico não é exclusivo de quem sobe ao palco, mas pode surgir de qualquer lugar da sala. A fotografia funciona aqui como uma superfície porosa entre os mundos - entre a arte e a vida, entre o ver e o fazer. Um território seguro onde se pode experimentar, falhar, insistir, associar, deslocar. E onde a mediação deixa de ser uma ponte entre duas margens para ser ela própria um lugar habitável, criativo, aberto.

Num tempo em que tanto se discute a acessibilidade e a participação nas artes, um projecto como este oferece uma proposta concreta e sensível - a de criar espaços onde os públicos não sejam apenas destinatários, mas co-autores. Onde a mediação não seja uma tradução para leigos, mas uma prática estética e política. Onde a fotografia não seja apenas vestígio do que foi, mas matéria viva do que pode vir a ser. E onde, sobretudo, o acto de participar se confunde com o de imaginar - com o de fazer parte, não por convite, mas por direito.